O papel estratégico da Amazônia para o enfrentamento da emergência climática foi destacado na fala de André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), durante o II Fórum Varanda de Nazaré, realizado nesta quarta-feira (10), em Belém (PA). O evento, que ocorre às vésperas do Círio de Nazaré, tem como anfitriã a cantora Fafá de Belém, embaixadora do IPAM.
André Guimarães fez uma abordagem que envolveu ciência, história, urgência nas soluções e a necessidade de aperfeiçoar a disseminação de conhecimentos sobre a Amazônia. “Temos o dobro do carbono na atmosfera que nós tínhamos em comparação com o período pré-Revolução Industrial. Não há mais dúvidas de que estamos vivendo um momento crítico. Essa crise climática é a primeira na história da Terra causada por uma espécie: o ser humano”, enfatizou.
O diretor também traçou um cenário hipotético com o fim da Amazônia. “Se segunda-feira não existir mais Amazônia, pelo menos um bilhão de pessoas no planeta Terra vão morrer de fome. Porque depende da alimentação que sai do Brasil e depende da chuva dentro da Amazônia”, apontou.
Para Guimarães, o cenário atual prescinde mudança de cultura, lembrando a trajetória expansionista da humanidade, que começou há 300 mil anos, quando um pequeno grupo de 10 mil pessoas viveu na região onde hoje é Botsuana, na África. Ele explicou como, desde então, a humanidade continuou sua expansão, ocupando todos os continentes e transformando o planeta ao seu redor. “Nós fomos selecionados ao longo do tempo para sermos bons expansionistas, mas agora essa expansão sem controle nos coloca em risco”, advertiu.
O diretor fez menção à carta de 5 mil cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) das Nações Unidas que cita que uma em cada cinco soluções que a natureza encontrou para habitar o planeta estão na Amazônia. Ainda, reforçou que a solução para a crise ambiental que ameaça o planeta não virá dos países desenvolvidos do Norte nem das regiões mais prósperas do Sudeste brasileiro. “A solução sairá daqui, da Amazônia. A Amazônia está aqui, sempre esteve e sempre estará. A gente tem que reconectar o mundo com ela.”
Guimarães lamentou a forma como o bioma é ensinado nas escolas brasileiras, de forma superficial e com pouco registros anteriores à colonização europeia. Ele acredita que somente com o conhecimento profundo da importância da Amazônia será possível mobilizar a sociedade para defendê-la de forma eficaz. “Precisamos ensinar a Amazônia aos brasileiros. Não podemos proteger o que não conhecemos”, afirmou.
Agradecimento
André Guimarães agradeceu a Fafá de Belém pelo evento fazendo uma comparação simbólica. “É um lugar que a gente enxerga, recebe, troca, se mostra e se reflete. Varanda é tudo isso”, comparou. “A Amazônia é onde ainda existe a relação mais verdadeira com a natureza.”
O painel “Mudanças Climáticas e Soluções Baseadas na Natureza” contou com a participação de Ana Claudia Pinho, Coordenadora do Centro Operacional dos Direitos Humanos do MPPA (Ministério Público do Pará); Fabio Feldmann, advogado e ambientalista; Marina Negrisoli, diretora de Sustentabilidade da Suzano; e Victor Del Vecchio, advogado e consultor em projetos de impacto socioambiental.