Secretaria Nacional de Bioeconomia é uma conquista para a Amazônia

17 de janeiro de 2023 | Notícias

jan 17, 2023 | Notícias

Por Paulo Moutinho, Olívia Zerbini e Patrícia Pinho*

O novo cenário político brasileiro mostra-se disposto a promover avanços no desenvolvimento sustentável da Amazônia e no combate à crise climática global. Uma das provas desta disposição foi a criação da Secretaria Nacional de Bioeconomia no âmbito do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Considerando que uma abordagem bioeconômica possa incentivar atividades que gerem retornos econômicos e renda a partir do uso sustentável dos recursos naturais, a nova secretaria é um passo acertado no combate às mudanças climáticas e como parte estratégica da recuperação econômica do país.

A bioeconomia no Brasil encontra campo fértil na Amazônia. Pode ser um dos motores para a tão urgente redução da destruição florestal na região. A redução rápida e significativa das altas taxas de desmatamento e do fogo permitirá não apenas manter os serviços ambientais prestados pelas florestas, mas também que as práticas agrícolas sejam mais sustentáveis e de baixo carbono.

A bioeconomia na Amazônia, contudo, requer cuidadosa atenção se quisermos, de fato, contribuir para um desenvolvimento sustentável da região sem a demanda de novos desmatamentos e com participação social, sobretudo dos povos originários e tradicionais. Será preciso estabelecer o que realmente significa uma bioeconomia verdadeiramente amazônica e não, simplesmente, adotar um conceito pronto cunhado fora da região ou do país.

Para o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), será necessário que o novo governo e a sociedade brasileira construam um conceito de bioeconomia amazônica que seja catalisador de proteção ambiental, distribuição justa de renda e preservação de direitos e modos milenares e seculares de vida e produção.

Para tanto, será preciso considerar quatro pilares norteadores desta conceituação. O primeiro pilar é o compromisso com o desmatamento zero. Uma bioeconomia genuinamente amazônica não poderá demandar, direta ou indiretamente, novos desmatamentos. O novo governo está comprometido com o desmatamento zero até 2030. Isso representa um avanço frente aos dados catastróficos de aumento de 59,5% de perdas de cobertura florestal na Amazônia nos últimos quatro anos em relação ao governo anterior (2015-2018). E não faz sentido, portanto, falar de bioeconomia em cadeias que, porventura, promovam o desmatamento, como as monoculturas.

O segundo pilar é a diversificação dos métodos de produção, valorizando a biodiversidade e sistemas produtivos sustentáveis alinhados à floresta em pé. O terceiro pilar é preservar a imensa diversidade de métodos tradicionais de produção de produtos da sociobiodiversidade amazônica, valorizando o conhecimento local e o modo coletivo de produção. E é justamente este conhecimento local ou regional baseado nos saberes tradicionais dos povos originários e comunidades tradicionais que podem resgatar as técnicas eficazes de cultivo e uso sustentável de produtos da sociobiodiversidade com inclusão social.

Finalmente, um quarto pilar deve ser levado em consideração nesta definição de uma bioeconomia amazônica: a repartição equitativa dos benefícios oriundos da bioeconomia com as populações que detêm e protegem a sociobiodiversidade regional.

Estes quatro pilares devem ser considerados pelo governo e, mais especificamente, pela Secretaria Nacional de Bioeconomia, e talvez se apliquem às discussões que contemplem outros biomas brasileiros ou os recursos pesqueiros. É essencial, contudo, que haja um entendimento que um conceito único de bioeconomia para o país deve, cuidadosamente, considerar as diferenças e os potenciais bioeconômicos de cada bioma brasileiro. Cabe lembrar que, para o desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia, é fundamental que haja um trabalho conjunto com e entre os estados. O Pará, o Acre e o Amazonas, por exemplo, já estão trabalhando em suas políticas estaduais de bioeconomia e estas iniciativas deverão prosperar de forma integrada, contribuindo com a construção de uma política nacional de bioeconomia que seja capaz de preservar recursos naturais, gerar prosperidade econômica e promover justiça social.

*texto publicado pelo JOTA e que pode ser acessado aqui



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Saiba mais em brasil.un.org/pt-br/sdgs.

Veja também

See also

Teste 20250816 1605

Teste 20250816 1605

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Aliquam vitae lorem consectetur ante scelerisque elementum. Duis feugiat sollicitudin aliquam. Curabitur justo enim, pulvinar nec convallis ac, porttitor quis urna. Etiam tincidunt fringilla odio in...