Acabar com a grilagem é vital para a segurança alimentar

11 de outubro de 2023 | Amazoniar (PT), Notícias

out 11, 2023 | Amazoniar (PT), Notícias

Por Lays Ushirobira*

A segurança alimentar – ou seja, o direito à alimentação em quantidade e com qualidade para manter uma vida saudável – corre grande risco com o avanço da grilagem na Amazônia. E esse risco não é apenas do Brasil, mas do mundo todo. Atualmente, a apropriação ilegal de terras públicas é uma das principais causas do desmatamento na região e contribui significativamente para as mudanças climáticas, afetando também a produção de alimentos no país.

“O avanço de monoculturas em áreas de floresta vem resultando num cenário preocupante. É preciso olhar para as condições que o ambiente requer para produzir nossos alimentos”, alerta Alcilene Cardoso, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em novo episódio da série do Amazoniar sobre grilagem.

Se aumenta o desmatamento, aumenta o risco de insegurança alimentar

A região do Cerrado amazônico ilustra bem esse cenário. Responsável por metade da produção agrícola do país, ela está entre as maiores áreas agrícolas do mundo e deve aumentar em 30% na próxima década. No entanto, a ambição do Brasil de aumentar sua produção agrícola na região pode cair por terra se o desmatamento continuar no ritmo atual: entre os vários impactos da extração de vegetação nativa está a alteração do ciclo hídrico, que prejudica a produção de alimentos e pode levar ao chamado agro-suicídio.

De acordo com estudo realizado por pesquisadores do IPAM e do Woodwell Climate Center, o Brasil perdeu 28% de sua área agrícola na região de transição entre a Amazônia e o Cerrado devido às mudanças climáticas. A projeção dos especialistas é que cerca de 50% dessa área deixará a zona climática considerada ideal até 2030 e 74% até 2060.

Além disso, quanto menos estrutura se tem para combater as mudanças climáticas, maior é o risco de insegurança alimentar. “Na Amazônia Legal, mais da metade dos municípios possuem alto grau de vulnerabilidade à insegurança alimentar por não terem as condições e a infraestrutura mínima para enfrentar a crise climática”, diz Cardoso. Como mostra reportagem do InfoAmazonia, 62% dos municípios estão em risco e a Amazônia é a região mais afetada do Brasil.

É preciso mudar a forma como se produz e consome alimentos no país

Embora a biodiversidade seja uma das maiores riquezas do Brasil, ela está longe de se refletir na alimentação do brasileiro. Segundo pesquisa do Ibirapitanga, com Imaflora e Instituto Clima e Sociedade, apenas 10 produtos – arroz, feijão, pão francês, carne bovina, açúcar, frango, banana, leite, refrigerantes e cerveja – representam 45% do consumo de alimentos no país. “A perda da diversidade cultural e soberania alimentar, prejudica nossa saúde nutricional e bem-estar”, explica Cardoso.

A pesquisadora também alerta para outro dado preocupante: o Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (SEEG) estima que 73% das emissões do Brasil estão associadas à agropecuária. Dessa forma, o Brasil continua no ranking dos maiores contribuintes para a crise climática, ocupando a sétima posição.

Um estudo do World Resources Institute (WRI) mostra que, se não houver um esforço de adaptação no modo de produção de alimentos, as emissões de carbono pela agricultura e outras atividades que usam a terra podem passar de 25% de todo o volume global de emissões para 70%. “Isso não precisa acontecer. A gente tem condição de produzir alimento de qualidade e em quantidade suficiente sem desmatar”, ressalta Cardoso.

Produção sustentável de alimentos

Uma grande alternativa à monocultura é o fortalecimento da agricultura familiar. “Para produzir alimentos, o agricultor precisa de assistência técnica rural. Outra coisa importante é aproveitar nossa biodiversidade, que também é fonte de geração de renda”, diz Cardoso. Ela destaca também a importância de políticas de mercados institucionais, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que estabelecem cooperação entre governos e agricultores familiares na distribuição de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade social e instituições sem fins lucrativos.

Pesquisadores do estudo já mencionado do WRI também sugerem melhorias na produtividade dos agricultores, além da vinculação de ganhos de produtividade e rendimento às iniciativas de proteção de florestas.

Sobre o Amazoniar

O Amazoniar é uma iniciativa do IPAM para promover um diálogo global sobre a Amazônia e sua importância para as relações do Brasil com o mundo. Nos ciclos anteriores, foram organizados diálogos sobre as relações comerciais entre Brasil e Europa; o papel dos povos indígenas no desenvolvimento sustentável da região e sua contribuição para a ciência e a cultura; e o engajamento da juventude pela floresta e seus povos nas eleições de 2022.

Com a proposta de levar a Amazônia para além de suas fronteiras, o Amazoniar já realizou projetos especiais, como um concurso de fotografia, cujas obras selecionadas foram expostas nas ruas de Glasgow, na Escócia, durante a COP 26; uma série de curtas que compôs a exposição “Fruturos – Amazônia do Amanhã”, do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro; além das cartilhas Cenários possíveis para a Amazônia no contexto das eleições brasileiras de 2022 e Soluções para o desmatamento na Amazônia. A iniciativa também produziu uma série de entrevistas com representantes de comunidades tradicionais durante as negociações do Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e União Europeia.

Para fazer parte do diálogo global sobre a Amazônia, inscreva-se na newsletter do Amazoniar.

 

*Jornalista e consultora de Comunicação do IPAM



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Saiba mais em brasil.un.org/pt-br/sdgs.

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