Anari Pataxó: pesquisa indígena e o resgate da língua Patxohã

5 de maio de 2025 | Notícias, Um Grau e Meio

maio 5, 2025 | Notícias, Um Grau e Meio

Lucas Guaraldo*

Anari Braz Bonfim é uma pesquisadora, antropóloga e ativista indígena nascida na Terra Indígena Coroa Vermelha do povo Pataxó, no sul da Bahia. É mestre em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e doutoranda em Antropologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ao longo de sua carreira, vem trabalhando para a preservação e recuperação de línguas indígenas extintas ou ameaçadas. Também compõe o Grupo de Trabalho Nacional da Década Internacional das Línguas Indígenas, iniciativa da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) que destaca o desaparecimento e a preservação de línguas e dialetos indígenas em todo o mundo.

Desde 1998, Anari e um grupo de professores e pesquisadores do povo Pataxó realizam, autonomamente, pesquisas documentais e de campo resgatando registros históricos e memórias dos anciões com o objetivo de retomar sua língua originária, o Patxohã, dada por extinta em meados do século XIX após séculos de colonização e conflitos na região. A língua faz parte do tronco Macro-Jê, como o Kayapó e o Paraná, e da família linguística Maxakali. O termo Patxohã significa “língua de guerreiro” e seu uso predominante nos dias atuais é como parte de rituais e cerimônias tradicionais.

Para entender a língua perdida, Anari conduziu um estudo etnográfico com crianças e anciões Pataxó, reunindo relatos orais e escritos a respeito da relação do povo com a língua. Também foram investigados os processos que levaram ao seu aparente desaparecimento e como as políticas de ensino de português e o êxodo para áreas não-indígenas prejudicaram a perpetuação da tradição oral do Patxohã

Para Anari a preservação das línguas indígenas está diretamente ligada à proteção dos próprios povos. Sem a língua originária, afirma, se perdem ritos e histórias essenciais para a manutenção das comunidades e dos territórios, prejudicando a identidade cultural desses indivíduos e violando direitos básicos dos povos originários.

“Temos tanto direito de falar nossa língua quanto as pessoas têm direito de falar o português e suas línguas. Os povos indígenas precisam disso para existir e elas devem ser respeitadas com suas diversidades e especificidades. Elas são parte essencial da preservação das culturas, da espiritualidade dos povos indígenas, dos nossos territórios e das nossas tradições. Nossa língua ecoa nos nossos cantos e nas nossas danças. É nela que está a vida dos povos indígenas”, destaca.

Apesar dos esforços, Anari diz que o processo de retomada das línguas indígenas ainda sofre as consequências de séculos de silenciamento e colonização. Além disso, ainda são poucos os programas e políticas públicas voltados especificamente para o ensino e preservação desses idiomas.

“Ao longo desses 525 anos fomos silenciadas. Existiam leis para proibir nossas línguas e agora é hora da gente fazer esse levante em prol das nossas línguas. Apesar da Constituição de 1988 garantir o uso das nossas línguas, ainda temos um grande desafio porque ainda não temos uma política nacional voltada para as línguas em todos os Estados. Existem diretrizes para a educação indígena, mas temos muita dificuldade porque não temos programas voltados para as línguas indígenas”, completa.

Segundo levantamento do Instituto Ibero-Americano de Línguas Indígenas, 38,4% das línguas indígenas da América Latina e do Caribe correm o risco de desaparecer. No Brasil são 190 línguas indígenas em perigo de extinção: é o terceiro país com mais idiomas em risco. Nesse sentido, pesquisadores como Anari trabalham há décadas para reverter esse processo, criando mecanismos de preservação e registros de conhecimentos tradicionais que estariam perdidos caso seus falantes desaparecessem.

*Jornalista do IPAM, lucas.itaborahy@ipam-staging.chama7.com

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