Pagar pela adaptação climática é mais barato do que ignorá-la

10 de abril de 2025 | Notícias

abr 10, 2025 | Notícias

Por Lucas Guaraldo*

Proteger e adaptar os povos e comunidades amazônicas vulneráveis às mudanças climáticas, embora custoso, é a forma mais econômica de evitar o colapso ambiental e de proteger o Brasil de perdas ainda maiores decorrentes da crise climática, alerta policy brief elaborado por pesquisadoras do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Segundo o documento, investir agora em adaptação e na proteção dos ecossistemas, com foco nos povos indígenas e comunidades tradicionais da floresta, representa um custo menor do que os danos socioeconômicos projetados, reforçando a urgência de ações coordenadas para evitar um colapso ecológico e social na região.

As pesquisadoras reforçam que as ações exigem investimentos para garantir a resiliência socioeconômica frente à crise climática. Na Amazônia, as perdas econômicas ao longo dos 30 anos seguintes ao ponto de inflexão – momento em que a floresta não conseguirá se sustentar e entrará em colapso – podem chegar a 3,5 trilhões de dólares.

O documento cita que apenas nove municípios brasileiros têm leis sobre adaptação às mudanças climáticas. No entanto, muitos desses planos são limitados em abrangência e enfrentam desafios relacionados à falta de interesse político e à baixa capacidade técnica dos governos locais no tema. Conflitos de interesse e pressões econômicas, além de agendas em prol do desenvolvimento socioeconômico predatório também têm atrasado a implementação e a ampliação de políticas climáticas, aponta o texto.

“A cada ano de atraso, os custos de adaptação aumentam, e as oportunidades para minimizar os impactos climáticos são reduzidas. Portanto, é imperativo que os tomadores de decisão priorizem e acelerem a implementação de estratégias de adaptação, utilizando dados e projeções como base para a ação imediata. Somente através de uma resposta ágil e coordenada será possível evitar os piores cenários projetados e garantir um futuro sustentável para o país”, alerta Patrícia Pinho, diretora adjunta de Pesquisa do IPAM e uma das autoras do policy brief.

Estratégias de adaptação

Para lidar com um cenário climático cada vez mais desafiador, o policy brief reforça a necessidade de identificação dos grupos mais expostos, como povos indígenas e comunidades tradicionais, garantindo medidas específicas a esses grupos e que sejam priorizados nos planos de adaptação.

Eventos climáticos extremos como secas prolongadas, inundações e incêndios florestais têm se tornado mais frequentes, resultando em impactos para a população, a economia e a infraestrutura. O policy brief destaca que entre 1991 e 2023 desastres climáticos causaram cerca de R$ 10 bilhões em prejuízos na Amazônia Legal — uma média de R$ 331 milhões por ano — e afetaram diretamente mais de 13 milhões de pessoas.

Como medidas específicas, o documento sugere o fortalecimento da infraestrutura básica e dos serviços de saúde e educação em cidades amazônicas — especialmente nos municípios menores, com menos de 50 mil habitantes —, reconhecendo que as estações na região são fortemente marcadas por ciclos hidrológicos. A bioeconomia também deve ser tratada como uma estratégia central de adaptação, por meio da criação de sistemas de negócios baseados na economia circular e na otimização de recursos ambientais.

“Historicamente, desde a colonização até os grandes projetos da ditadura e o atual modelo de desenvolvimento imposto à região, há uma tendência de apagar o tecido social amazônico. Fala-se muito da floresta, da biodiversidade, do clima e dos serviços ecossistêmicos — e sim, tudo isso é fundamental — mas é preciso lembrar que a Amazônia é também a casa de milhões de pessoas. Povos indígenas, comunidades tradicionais, ribeirinhos e pequenos agricultores vivem ali há séculos, sustentando suas culturas, modos de vida e cuidando da floresta. Eles estão na linha de frente dos impactos da crise climática, apesar de terem colaborado pouco para essa desestabilização global. Por isso, a justiça climática precisa estar no centro das soluções. Sem enfrentar as desigualdades históricas e atuais, não haverá adaptação possível nem transição justa que se sustente”, defende Pinho.

Ainda, o documento defende a operacionalização do Fundo de Resiliência e Sustentabilidade do FMI (Fundo Monetário Internacional), visando fornecer financiamentos para a adaptação climática através de Bancos Multilaterais de Desenvolvimento e do setor privado. A criação de mecanismos globais, tal como o fundo de perdas de danos da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), deve ser capaz de direcionar subsídios de adaptação para países que enfrentam eventos climáticos extremos.

Garantindo a equidade

O documento reforça a necessidade de equidade na distribuição dos recursos destinados à adaptação climática. A estratégia busca garantir que os grupos mais vulneráveis tenham acesso igualitário e prioritário aos benefícios da adaptação, uma vez que são  desproporcionalmente afetados pelos efeitos da crise climática.

A promoção da equidade na adaptação envolve a criação de mecanismos de consulta e participação que assegurem às comunidades locais voz ativa nas decisões e propostas que impactam suas vidas e territórios. Segundo as pesquisadoras, esse equilíbrio pode ser alcançado por meio da criação de fundos acessíveis que apoiem a adaptação em comunidades especialmente vulneráveis.

“A Amazônia, como esse grande reservatório de biodiversidade, regulação climática e potência hídrica, precisa ser vista do ponto de vista de quem está nessa floresta milenarmente. Para garantir estratégias eficazes, sustentáveis e com real aderência local, é fundamental priorizar a cultura, os saberes tradicionais e a experiência das populações que vivem e manejam historicamente os ecossistemas tropicais da Amazônia”,  completa Pinho.

Atualmente, regiões do Leste Asiático e do Pacífico estão entre as que necessitam de apoio financeiro para ações de adaptação climática; assim como o Sul da Ásia, onde populações se encontram expostas a eventos climáticos extremos recorrentes. As áreas que mais demandam grandes aportes financeiros estão na América Latina e no Caribe, com destaque para a região amazônica.

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