“Matopiba caminha para danos cada vez maiores de vegetação nativa”

24 de junho de 2024 | Notícias, Um Grau e Meio

jun 24, 2024 | Notícias, Um Grau e Meio

Por Lucas Guaraldo

Roberta Rocha é pesquisadora do IPAM e compõe a equipe responsável por elaborar os dados do Relatório Anual do Desmatamento. Em entrevista à Um Grau e Meio, explica as dinâmicas do uso do solo e o desmatamento crescente na região e alerta para os riscos do desaparecimento do bioma em municípios que estão próximos de perder toda a sua vegetação nativa, como a falta de água e a inviabilização da produção agropecuária.

Com a migração do desmatamento para a porção norte do Cerrado, região que possui os maiores remanescentes de vegetação preservada do bioma, a pesquisadora ressalta a importância de agir para que as savanas sejam protegidas. Como propostas, Roberta cita a criação de novas áreas de proteção no bioma, uma fiscalização mais cuidadosa das autorizações de desmatamento e benefícios para os produtores que colaboram com a preservação.

IPAM: Como se deu a expansão dos usos do solo do norte para o sul do Cerrado? 

Roberta Rocha: O Cerrado é uma fronteira agropecuária principalmente devido aos investimentos em tecnologia, como calagem do solo e melhoramento genético da soja, que se iniciaram na década de 70 e que permitiram o cultivo de grãos e outras culturas nessa região.

Esses avanços tecnológicos e investimentos em pesquisa, em conjunto com a busca por novas regiões para expandir a atividade agropecuária, contribuíram para o deslocamento da atividade agropecuária da porção sul para a porção norte do bioma, conhecida como Matopiba.

A partir de quando começamos a notar a forte presença da região do Matopiba nas listas de perda de vegetação nativa? Que padrão segue o desmatamento na região?

A região do Matopiba apresenta um crescimento das regiões de pastagem e agricultura relativamente recente, se comparado com a porção sul do Cerrado. Esse período se dá a partir do início dos anos 2000 e  à medida que avança a abertura de novas áreas, ocorre a perda de vegetação nativa.

Na região do Matopiba observamos o desmatamento de grandes áreas de vegetação nativa, facilitado pelo relevo plano da região. Além disso, fatores como a pluviosidade, disponibilidade de água e solos bem desenvolvidos, favorecem a agricultura na região.

Os dados recentes de desmatamento vêm demonstrando que é nessa região que se concentra grande parte do desmatamento do Cerrado, mas é no Matopiba que ainda se concentra cerca de 44% da vegetação nativa remanescente do bioma. Esse cenário atual ameaça a conservação desses remanescentes de vegetação nativa e dos diversos serviços ecossistêmicos que ela provém. Por isso, é necessário conciliar a atividade agropecuária com a conservação do bioma.

Alguns municípios do Cerrado no Mato Grosso tem menos de 40% da sua vegetação nativa remanescente. Que tipo de impacto isso tem pra essa região?

Essa perda acentuada de vegetação nesses municípios compromete vários serviços ecossistêmicos e a própria qualidade ambiental da região. Impactando, por exemplo, na proteção do solo e levando a processos erosivos, diminuição da infiltração de água no solo, fragmentação, perda de habitat para as espécies e perda de biodiversidade também.

Os municípios do Matopiba seguem esse mesmo caminho? Se mantidos os padrões atuais, o que podemos esperar dessa região?

Com os altos números de desmatamento que observamos nos municípios do Matopiba, essa região já vem apresentando grandes perdas, e caminha para perdas cada vez maiores de vegetação nativa.

É preciso implementar medidas imediatas para reduzir o desmatamento nessa região. Caso contrário, o cenário será de perdas cada vez maiores de vegetação nativa em uma região chave para a conservação do Cerrado, o que ameaça a fauna e a flora da região e compromete serviços ecossistêmicos, além do aumento de conflitos socioambientais.

Manter a vegetação que ainda resta significa investir na conservação dessas áreas com áreas protegidas que já existem e criando novas áreas. Para além disso, precisamos investir no fortalecimento e expansão das ações de fiscalização para coibir o desmate  ilegal de novas áreas, investir em pesquisa e inovação para desenvolver tecnologias que permitam a produção agrícola de forma mais sustentável e menos danosa para o meio ambiente.

Que mecanismos podem ser adotados para conservar os remanescentes de vegetação nativa em municípios que já perderam grande parte de sua vegetação nativa? 

A conservação das áreas protegidas que já existem, o estabelecimento de mais unidades de conservação, fortalecimento das terras indígenas e o reforço na implementação das áreas de preservação permanente, são cruciais para a conservação desses remanescentes de vegetação nativa. Assim como políticas de incentivos econômicos e o monitoramento e fiscalização dessas regiões.

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