Seminário debate papel da mulher em atividades rurais e no trabalho familiar

21 de dezembro de 2020 | Notícias

dez 21, 2020 | Notícias

Por Sara R. Leal¹

Com o tema “Abordagem de gênero na ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural)”, o segundo webinar do Ciclo de Seminários on-line do Programa CapGestão Amazônia foi ao ar na última quarta-feira (16).

O evento é uma iniciativa do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), com o apoio do Instituto Humanize e em parceria com o projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável, com a GIZ (Cooperação Técnica Alemã) e com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Trabalho no campo e a mulher
A despeito dos avanços conquistados pela luta feminina por direitos e reconhecimentos em diversas áreas da sociedade, debates sobre o tema e ações afirmativas ainda são essenciais.

A diretora adjunta de Desenvolvimento Territorial do IPAM, Lucimar Souza, reforçou a necessidade de profissionais de ATER estarem informados e capacitados para não reproduzirem modelos negativos e ultrapassados. “Se não estivermos atentos e, acima de tudo, capacitados, seguiremos a lógica estrutural e reproduziremos um modelo que distancia, no direito e nas conquistas, os homens e as mulheres.”

Coordenadora do programa CapGestão Amazônia e agrônoma, Cláudia de Souza foi a mediadora do seminário e apresentou um breve panorama sobre a atual situação da mulher no campo. Segundo ela, em todo o mundo, 70% dos alimentos de consumo direto são produzidos por agricultoras. No entanto, apenas 1% da terra agrícola está no nome de proprietárias. Ao mesmo tempo, cresce o número de mulheres chefes de família nas zonas rurais, responsáveis pelo cuidado dos filhos e pela produção agropecuária.

“Em cada um dos módulos do Programa Capgestão buscamos trabalhar algumas ferramentas metodológicas que tornem visível o papel desempenhado pelas mulheres. Desenvolvemos um módulo especial de capacitação para ampliar esse olhar e uma publicação com essa abordagem, disponível no site do programa” disse a coordenadora.

O poder feminino
Quando visitam propriedades para prestar assistência, é comum que os(as) técnicos (as) de ATER sejam acompanhados apenas pelo homem da casa. A pedagoga e analista de projetos do Imaflora, Celma de Oliveira, destacou que o costume reforça uma ideia de concentração do poder de governança e renda nas mãos da figura masculina, apesar de a mulher também partilhar as tarefas laborais. “Se ela partilha desse trabalho, também tem direito a usufruir do conhecimento e, sobretudo, do poder de decisão”, defendeu.

A pedagoga ressaltou que quando são incluídas no processo, as mulheres ganham autonomia, se empoderam e ampliam “as visões sobre si mesmas, até se perceberem não só como mães e esposas, mas como agricultoras familiares e empreendedoras”.

O principal desafio, segundo a educadora popular da FASE/Fundo Dema e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Beatriz Luz, é reconhecer a naturalização da exclusão das mulheres rurais do mundo produtivo. “Elas sempre foram consideradas trabalhadoras domesticas, e isso é um elemento crucial para perpetuar uma desigualdade que atravessa varias dimensões, não somente cultural ou individual, mas estrutural”, explicou.

Para a educadora, é necessário não só lutar por comida saudável, mas por pessoas saudáveis. “A agroecologia não é uma outra alternativa de produção, mas um projeto de sociedade como um todo, não só produtivo, mas de mulheres e homens livres e igualados.”

A agrônoma do centro de tecnologias alternativas da Zona da Mata/MG – GT e integrante do grupo de trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agronegócio, Beth Cardoso, salientou ser preciso repensar a estrutura das reuniões de ATER para que as mulheres possam participar.

“O horário, por exemplo, é fundamental. Se grande parte das mulheres rurais fazem o almoço, caso a reunião seja no período da manhã, automaticamente você exclui aquelas que precisam cozinhar”, pontuou.

Cardoso também reforçou a importância das chamadas “cirandas”, que permitem que as mães levem crianças para reuniões e participem de conversas inclusivas. “Também precisamos nos responsabilizar coletivamente por essas crianças e pensar em atividades para elas”, finalizou.

A transmissão completa do seminário está disponível aqui.

CapGestão
O Programa CapGestão Amazônia busca desenvolver capacidades de gestão de empreendimentos da agricultura familiar, contribuindo para a ampliação das possibilidades de geração de renda para famílias agricultoras, povos indígenas e comunidades tradicionais, com a manutenção da floresta em pé.

Na edição anterior, em 2018, o CapGestão foi implementado em Rio Branco (AC), Macapá (AP), Belém (PA), Santarém (PA) e em Manaus (AM), por meio da iniciativa Mercados Verdes e Consumo Sustentável, da GIZ e Consórcio IPAM/Eco Consult, em parceria com o Mapa.

Em 2020, o programa começou a ser ampliado em 14 cidades paraenses: Anapu, Pacajá, Novo Repartimento, Itupiranga, Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Sapucaia, Rio Maria, Xinguara, Floresta do Araguaia, Conceição do Araguaia, São Félix do Xingu e Tucumã. Essa nova etapa é realizada no âmbito do projeto “Fortalecimento de capacidades locais para a gestão de empreendimentos e ampliação da comercialização de produtos da agricultura familiar”, com o apoio do Instituto Humanize.

 

¹Jornalista e analista de Comunicação no IPAM, sara.pereira@ipam-staging.chama7.com



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Saiba mais em brasil.un.org/pt-br/sdgs.

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